“Não quero ir pra escola!”

Saiba quais as causas de recusa escolar em crianças autistas.

12/2/20235 min read

Retorno das férias, conflito com colegas ou mesmo preocupação com algum familiar doente podem influenciar no sentimento de aversão à escola.

A recusa escolar é uma angústia real manifestada pelas crianças típicas e atípicas.

O dia amanhece e começa a batalha. Você chama seu filho, mas ele se recusa a levantar da cama. Basta mencionar a palavra “escola” para que ele manifeste mal estar ou mesmo uma dor de barriga. Em autistas, a insistência dos pais pode disparar crises de ansiedade na criança, que demonstra o desconforto balançando o corpo ou batendo as mãos. Esses são sinais clássicos da chamada recusa escolar.

Embora possa acometer todas as crianças, em autistas essa questão emocional poderá trazer sintomas específicos e os pais devem ajudar os filhos a encontrar a fonte desse incômodo para promover o retorno ao colégio.

A recusa escolar é um dos fatores que mais afastam as crianças da escola e para lidar com ela é importante contar com o apoio dos profissionais da escola. Por isso, a primeira orientação aos pais é manter contato com a instituição e tentar entender se algo ocorreu durante as aulas.

Esse sentimento de angústia pode ficar mais intenso e se manifestar como ansiedade, depressão e disparar crises nas crianças autistas, não só com as manifestações já mencionadas, mas com um maior apego às obsessões e rituais, a chamada estereotipia motora.

O que pode causar a recusa escolar?

Antes de mais nada, é preciso diferenciar a recusa escolar com uma simples vontade de “matar a aula”. A criança manifesta uma angústia real e os pais percebem que há algo errado. Essa sensação vai variar desde a recusa de ir à escola até um agravamento emocional que impede a criança de sair de casa.

É comum que a recusa escolar apareça depois de longos períodos de afastamento do ambiente escolar, como o início do ano letivo, ou ainda no final do período. Crianças que estão iniciando a vida escolar também podem passar por essa questão emocional, especialmente pela separação física da mãe e do pai, suas principais referências.

Ao manifestar a recusa escolar, tenha em mente que seu filho está tentando evitar a escola ou tentando permanecer em casa por algum motivo. Os motivos mais comuns para não querer estar na escola são: conflito com colegas ou bullying, sentir-se sobrecarregado de atividades, mudança de sala ou turma, um dever de casa inacabado ou um evento escolar com muitas pessoas e barulho.

Caso o desejo seja por permanecer em casa, algumas das causas mais frequentes são: a sensação de segurança e conforto, o apego a atividades que gosta muito – como jogos eletrônicos – ou preocupação com algum problema que esteja ocorrendo no ambiente familiar, seja um bichinho ou ente querido doente até brigas entre os pais.

Entenda a causa da recusa escolar

Pode ser difícil para a criança autista manifestar verbalmente o que está acontecendo. Algumas estratégias irão te ajudar a identificar o motivo por trás da recusa escolar.

  • Para descobrir se está havendo algum conflito com outro colega, se ele está enfrentando alguma dificuldade em alguma matéria ou com um professor ou se há algo que ele está tentando evitar, pergunte se há algo errado. Formule a pergunta de maneira criativa, como “se você pudesse mudar uma coisa na sua escola, o que seria?”

  • Se ainda assim for difícil para a criança explicar o que está acontecendo, tente perguntar sobre o dia dela dividindo as tarefas por partes (análise de tarefas). Por exemplo: como foi a ida até o colégio? E a aula de Ciências (cite as disciplinas)? E o recreio? E assim por diante. Utilize formas de critério como dizer qual foi a nota, de 1 (muito ruim) a 5 (muito bom), ou levantar ou abaixar o polegar para cada pergunta.

  • Reflitam se houve alguma mudança em casa, se ocorreu algo que pode estar preocupando ou deixando a criança estressada/ansiosa. Algum falecimento, mudança de imóvel ou mesmo de decoração, o cachorro está doente?

Hora do retorno: como ajudar?

O foco dos pais será em identificar o disparador para ajudar a criança a ultrapassar o problema e retornar o mais breve possível à escola. Para isso, tenha em mente algumas formas de agir:

  • Assim que identificarem o problema, pensem juntos em uma solução. Façam uma lista com diferentes formas de abordar a questão e escolham a melhor possível. Quanto mais autonomia a criança puder ter no processo, mais interessante será para ela.

  • Antes do início das aulas, depois das férias ou de um feriado longo, relembre a criança do ambiente escolar, seja levando-a até lá ou mostrando fotos das salas, dos colegas, professores e funcionários.

  • Mantenha uma comunicação constante com a escola. Se não houver, sugira a formação de um grupo de apoio com outras famílias, pedagogos e psicólogos. Converse com a coordenação sobre o período enfrentado pela criança e peça as tarefas escolares para que ela ou ele não fiquem para trás no conteúdo das disciplinas.

  • Forçar uma volta é altamente não recomendado, já que pode piorar o quadro. Mas no período em que a criança estiver em casa, faça com que o ambiente não fique convidativo demais, por exemplo, limitando o acesso à internet e à TV. É importante que todos os membros da casa saibam da estratégia para ajudar.

  • Caso identifique alguma dificuldade escolar como motivo para a recusa, converse com o colégio sobre algumas propostas. Por exemplo: a criança pode retornar aos poucos, ficando apenas um período ou durante suas atividades favoritas? Há algum ambiente calmo para onde a criança possa ir para se tranquilizar? Ter professores e coordenadores especializados, que saibam lidar com crianças autistas, é fundamental para a compreensão dessas necessidades.

  • Crie uma rotina em casa para ajudar a criança a lidar com a ansiedade. Arrume as mochilas, lancheiras e uniforme na noite anterior para garantir que tudo esteja pronto na hora; utilize frases afirmativas que dão menos brechas para recusas, trocando o “se” pelo “quando”, por exemplo: amanhã, “quando você estiver na escola” em vez de “se você for à escola”.

Por fim, caso a recusa escolar persista, procure ajuda multidisciplinar para auxiliar você e a criança nesse processo de retorno. Psicólogos, psicopedagogos e pediatras devem ser informados sobre a questão e possuem ferramentas para conduzir a família a uma resolução.

REFERÊNCIAS

School refusal: autistic children and teenagers. Disponível em: https://raisingchildren.net.au/autism/school-play-work/school/school-refusal-autistic-children-and-teenagers#signs-and-symptoms-of-school-refusal-in-autistic-children-nav-title

ATTWOOD, Tony. THE COMPLETE GUIDE TO ASPERGER’S SYNDROME, p. 151. Jessica Kingsley Publishers. Londres/2007.